Bariátrica não é mágica: entenda por que a cirurgia exige mudanças reais

A cirurgia bariátrica é hoje uma das estratégias mais eficazes no tratamento da obesidade grave e das doenças associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono. No entanto, um dos mitos mais comuns que circulam é a ideia de que a bariátrica seria uma solução “fácil” ou “mágica” para emagrecer.

A verdade é que a cirurgia pode transformar a vida de um paciente, mas os resultados dependem diretamente de disciplina, acompanhamento e mudança de estilo de vida.

Por que muitas pessoas acreditam nesse mito?

A rápida perda de peso observada nos primeiros meses após a cirurgia gera a impressão de que tudo acontece de forma automática e sem esforço. De fato, os procedimentos bariátricos reduzem a ingestão de alimentos (restrição gástrica) e/ou alteram a absorção de nutrientes (procedimentos disabsortivos).

Mas o que muitas vezes não se fala é que:

  • A cirurgia não altera sozinha o comportamento alimentar.
  • O organismo passa por adaptações metabólicas ao longo dos anos.
  • O peso pode voltar a subir se não houver mudanças consistentes no estilo de vida.

O que realmente acontece após a cirurgia

1. Perda de peso inicial

Nos primeiros 12 a 18 meses, a maioria dos pacientes perde entre 60% a 70% do excesso de peso. Esse efeito é resultado da restrição gástrica e das mudanças hormonais que reduzem a fome e aumentam a saciedade.

Aviso importante: Esses números representam uma média observada em estudos clínicos. Os resultados podem variar bastante de acordo com o tipo de cirurgia, idade, presença de doenças associadas e, principalmente, com a adesão do paciente às mudanças de hábitos e ao acompanhamento médico.

2. Adaptação metabólica

Após a fase inicial, o corpo tende a buscar equilíbrio. É esperado um pequeno reganho de peso (em torno de 5% a 10%), considerado fisiológico.

3. Risco de reganho excessivo

Pacientes que não mantêm o acompanhamento ou retomam hábitos alimentares inadequados podem ter um reganho maior e comprometer os resultados. O risco é ainda maior quando não há prática de atividade física ou adesão à suplementação.

Compromissos que o paciente deve assumir

A bariátrica não dispensa mudanças de hábitos. Pelo contrário: ela abre uma oportunidade de transformar a relação do paciente com a alimentação e o autocuidado.

  • Alimentação equilibrada → pequenas porções, foco em proteínas e alimentos naturais.
  • Atividade física regular → essencial para manutenção do peso e saúde cardiovascular.
  • Suplementação de vitaminas e minerais → geralmente necessária por toda a vida.
  • Apoio psicológico → ajuda no controle da compulsão alimentar e questões emocionais.
  • Consultas médicas regulares → acompanhamento multidisciplinar previne complicações.

A bariátrica como ferramenta, não como solução mágica

É importante reforçar: a cirurgia não “cura” a obesidade sozinha. Ela cria condições para que o paciente tenha uma perda de peso significativa, reduza comorbidades e ganhe qualidade de vida. Mas o sucesso a longo prazo depende da adesão ao tratamento multidisciplinar e da responsabilidade do paciente em manter novos hábitos.

Referências

  • Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Mitos e verdades em cirurgia bariátrica. 2023. Disponível em: sbcbm.org.br
  • American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (ASMBS). Bariatric Surgery Procedures. 2022. Disponível em: asmbs.org
  • Buchwald H, Oien DM. Metabolic/bariatric surgery worldwide 2011. Obes Surg. 2013;23(4):427-36.
  • Mechanick JI, et al. Clinical Practice Guidelines for the Perioperative Nutritional, Metabolic, and Nonsurgical Support of the Bariatric Surgery Patient — 2020 Update. Surg Obes Relat Dis. 2020;16(2):175-247.