IMC e Cirurgia Bariátrica: quando o índice de massa corporal indica a necessidade da cirurgia

A obesidade é considerada uma das maiores epidemias do século XXI e já afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Trata-se de uma doença crônica, progressiva e multifatorial, que aumenta significativamente o risco de doenças cardiovasculares, metabólicas, respiratórias e até mesmo alguns tipos de câncer.

Entre os principais parâmetros utilizados para avaliar o excesso de peso está o Índice de Massa Corporal (IMC), uma ferramenta simples e amplamente aceita pela comunidade médica. Mais do que um número, o IMC é um dos critérios fundamentais para indicar quando a cirurgia bariátrica pode ser necessária como forma de tratamento.

Neste artigo, vamos explicar como o IMC é calculado, qual a sua relação com a obesidade, em que situações ele indica a cirurgia bariátrica e por que ele não deve ser analisado de forma isolada.

O que é IMC (Índice de Massa Corporal)?

O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida que relaciona o peso e a altura de uma pessoa. O cálculo é feito dividindo-se o peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros).

Fórmula do IMC:
IMC = Peso (kg) ÷ Altura² (m²)

Por ser de fácil aplicação e baixo custo, o IMC é utilizado em todo o mundo para classificar o estado nutricional da população adulta.

Classificação do IMC segundo a OMS

  • Abaixo do peso: IMC menor que 18,5
  • Peso normal: IMC entre 18,5 e 24,9
  • Sobrepeso: IMC entre 25 e 29,9
  • Obesidade grau I: IMC entre 30 e 34,9
  • Obesidade grau II: IMC entre 35 e 39,9
  • Obesidade grau III (obesidade mórbida): IMC maior ou igual a 40

Quanto maior o IMC, maior é o risco de desenvolver doenças relacionadas à obesidade e maior a gravidade do quadro clínico.

Por que o IMC é importante na obesidade?

O aumento progressivo do IMC está diretamente associado ao risco de complicações graves. Estudos mostram que pessoas com IMC elevado têm maiores chances de desenvolver:

  • Diabetes tipo 2
  • Hipertensão arterial sistêmica
  • Dislipidemia (colesterol e triglicerídeos elevados)
  • Doenças cardiovasculares (infarto, AVC)
  • Apneia obstrutiva do sono
  • Doenças articulares degenerativas
  • Alguns tipos de câncer, como o de mama e de cólon

No Brasil, a obesidade já atinge cerca de 26% da população adulta (dados do Vigitel 2023), e esse número vem crescendo. Assim, compreender a relação entre IMC e risco de saúde é fundamental para definir estratégias de tratamento.

Quando o IMC indica cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica é considerada o tratamento mais eficaz para obesidade grave e suas complicações metabólicas. Mas sua indicação segue critérios rígidos, nos quais o IMC é determinante.

Critérios principais

  • IMC ≥ 40 kg/m²: a cirurgia é indicada mesmo que o paciente não apresente doenças associadas.
  • IMC ≥ 35 kg/m²: a cirurgia pode ser indicada quando existem comorbidades relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono, dislipidemia e doenças articulares.

Situações especiais

Estudos mais recentes apontam que pacientes com IMC entre 30 e 34,9 e diabetes tipo 2 de difícil controle também podem se beneficiar da cirurgia bariátrica. Essa indicação ainda é restrita e deve ser avaliada caso a caso.

Benefícios da cirurgia em diferentes faixas de IMC

Pacientes com IMC ≥ 40

  • Elevado risco de mortalidade precoce
  • Melhora significativa na expectativa de vida após a cirurgia
  • Perda de peso expressiva e sustentada

Pacientes com IMC 35–39,9

  • Redução importante das comorbidades
  • Melhora na qualidade de vida e capacidade funcional
  • Redução da necessidade de medicamentos para hipertensão, diabetes e colesterol

Pacientes com IMC 30–34,9 (selecionados)

  • Principal benefício: remissão do diabetes tipo 2
  • Estudos mostram melhora no controle glicêmico em até 70% dos casos

Limitações do IMC como critério

  • Não diferencia massa magra de gordura: um atleta pode ter IMC elevado sem excesso de gordura
  • Não avalia a distribuição da gordura corporal: a gordura visceral (acúmulo na região abdominal) é mais perigosa que a gordura periférica
  • Não considera idade, sexo ou etnia, que também influenciam na composição corporal

Por isso, o IMC deve ser interpretado dentro de um contexto clínico mais amplo.

Avaliação além do IMC: como decidir pela cirurgia?

A decisão pela cirurgia bariátrica não se baseia apenas no número do IMC. Outros fatores são avaliados:

  • Histórico de tentativas de emagrecimento sem sucesso
  • Presença de comorbidades
  • Impacto da obesidade na qualidade de vida (limitações físicas, sociais e psicológicas)
  • Exames laboratoriais e de imagem
  • Avaliação multidisciplinar, envolvendo nutricionista, psicólogo, endocrinologista e cirurgião

Esse cuidado garante que a cirurgia seja indicada apenas quando realmente necessária e segura.

Benefícios da cirurgia bariátrica

  • Remissão ou melhora do diabetes tipo 2
  • Controle da hipertensão arterial
  • Melhora da apneia do sono
  • Redução do colesterol e triglicerídeos
  • Redução do risco cardiovascular
  • Melhora da mobilidade e das dores articulares
  • Aumento da qualidade de vida, autoestima e expectativa de vida

Estudos mostram que pacientes submetidos à cirurgia bariátrica vivem mais e com menos complicações do que aqueles que permanecem apenas em tratamento clínico.

O IMC é um dos principais critérios para indicar a cirurgia bariátrica, pois reflete a gravidade da obesidade e o risco de complicações. No entanto, ele não deve ser analisado de forma isolada. A decisão deve sempre envolver uma avaliação completa, multidisciplinar e personalizada.

A cirurgia bariátrica representa um divisor de águas no tratamento da obesidade grave, oferecendo não apenas perda de peso, mas também a melhora da saúde metabólica, da qualidade de vida e da expectativa de vida.

Se você convive com obesidade e apresenta um IMC elevado, procure orientação médica especializada. Cada caso é único, e somente uma avaliação criteriosa pode indicar o melhor tratamento.